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09 setembro, 2010

Diagnóstico

O diagnóstico da doença, carcinomatose meníngea com tumor primário desconhecido, nos foi dado após aproximadamente 3 meses desde o início da manifestação da doença.
Em meados de junho minha mãe começou a sentir muita tontura, e cansaço (cansaço ela já sentia há algum tempo) a ponto de não conseguir trabalhar. Foi então que começamos a procurar muitos médicos.
O primeiro lugar que fomos foi ao pronto socorro de um hospital, onde a médica se quer examinou minha mãe e foi logo dizendo que ela estafa.
Mas minha mãe foi piorando, a tontura era tanta que ela ficava só no sofá da sala, grande parte do dia. Fomos a um clínico geral de nossa confiança que logo prescreveu remédio para labirintite, mas depois de procurar um otorrino, a labirintite foi descartada.
Junto a isso, fomos percebendo que um dos olhos estava sempre fechado, isso por que a visão começou a ficar dupla.
Em seguida verificamos que minha mãe estava com dificuldade motora, tendendo sempre para um lado.
Procuramos outro médico, um neurologista, e ele disse que isso tudo era psicológico, que logo iria passar.
Minha mãe começou a ter náuseas, falta de paladar e apetite, e procuramos um gastrologista que pediu alguns exames e recomendou que procurássemos outro neurologista.
Nos exames constataram-se duas ulceras, mas claro que sabíamos que o motivo da doença não era esse.
Fomos a um neurologista conhecido, e ele pediu uma tomografia e uma ressonância de crânio. Na tomografia apareceu uma leve isquemia e achamos que essa era a razão de todos os sintomas.
Mas os sintomas não passaram com os remédios que o neurologista indicou, e para piorar, minha mãe começou a ficar muito confusa.
Em um dia de muito mal estar fomos ao pronto socorro do hospital Santa Catarina, em São Paulo, e fomos atendidos por um neurologista que logo pediu a internação de minha mãe, afirmando que ela não sairia de lá sem antes descobrirem o que de fato ela tem.
Inúmeros exames foram feitos e refeitos, e em uma ampliação da ressonância de crânio verificou-se um leve inchaço na meninge. Em seguida os médicos pediram exame do exame no líquor(*), e foi este exame que definiu o triste e cruel diagnóstico. Uma amostra do líquido foi extraída através de uma punção lombar. O procedimento foi muito simples, indolor, mas um pouco incômodo, principalmente porque depois o paciente deve necessariamente ficar em repouso. A aparência do líquor é cristalina, como a água, e o líquor de minha mãe estava ligeiramente amarelado, o que não era um bom sinal.
Feita a análise do líquor, verificou-se a existência de células aparentemente neoplásicas (células tumorais) e, como primeiro passo para confirmar o diagnóstico foi feita uma citologia para descartar bactérias, vírus e fungos. Nada foi encontrado.
O líquor lubrifica o sistema nervoso e as células tumorais vão se juntando aos nervos, sendo esta a causa da visão dupla, dos enjôos, da falta de equilíbrio e da confusão na mente de minha mãe.
Os médicos indicaram um corticóide que melhoraria os sintomas de minha mãe, até a confirmação do diagnóstico. Tal confirmação seria feita por um exame mais apurado do liquor, a imuno-histoquímica.
Enquanto isso, os médicos explicaram que as chances de um tumor iniciar no líquor são quase zero, pois não há praticamente nada no líquor, o que os leva a crer que há um sítio primário, ou seja, um tumor primário, sendo que as células tumorais já haviam se multiplicado, invadido a corrente sanguínea (processo de metástase), e se manifestado no líquor, acometendo o sistema nervoso.
Assim, os médicos requisitaram outro exame, o PET-CT (**), com o intuito de encontrarem algum tumor primário, mas já advertiram que não são raros os casos em que não se encontra o tumor primário.
Ao mesmo tempo aguardávamos o laudo da imuno-histoquímica que poderia indicar onde estava o tumor primário caso as células tivessem alguma característica específica.
Os médicos explicaram que células de câncer de mama são de um jeito, sistema gastrointestinal de outro, e assim por diante.
A imuno-histoquímica foi conclusiva para detectar que de fato se se tratavam de células neoplásicas e que aparentemente se tratavam de células do sistema gastrointestinal, e o PET-CT não trouxe nada, nenhum tumor foi encontrado.
Os médicos explicaram que se trata de um tumor oculto ou muito pequeno, que pode aparecer um dia, ou ainda de um tumor que apareceu e já foi embora. Não aparecendo nenhum tumor o tratamento seria quimioterapia intratecal, injetada diretamente e somente no líquor, inicialmente através de punção lombar e posteriormente através de um catéter a ser introduzido no cérebro, bem no local onde o líquor é produzido.
O prognóstico era gravíssimo e sem cura, pois existe uma grande dificuldade em tratar o sistema nervoso, conhecido pela medicina como santuário. Nosso corpo protege muito o sistema nervoso, o que dificulta a atuação de qualquer droga, por isso mesmo decidiu-se pela quimioterapia intratecal que atua diretamente; todavia, mesmo esta quimioterapia não é tão eficaz por não poder ser injetada em grande quantidade, justamente por se tratar do sistema nervoso. Os médicos disseram que não há cura e o diagnóstico ficou definido como carcinomatose meníngea de tumor primário desconhecido.






(*) líquido cefalorraquidiano (LCR), Fluido cerebrospinal, ou Líquor: é um fluido corporal estéril e de aparência clara que ocupa o espaço subaracnóideo no cérebro (espaço entre o crânio e o córtex cerebral—mais especificamente, entre as membranas aracnóide e pia-máter das meninges). É uma solução salina muito pura, pobre em proteínas e células, e age como um amortecedor para o córtex cerebral e a medula espinhal. Fonte: Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADquido_cefalorraquidiano
(**) O PET é uma técnica de imagens que revela as alterações no metabolismo celular por todo o corpo. Ela permite a detecção precoce de mínimas lesões tumorais ou novos focos da doença. Fonte: www. hcanc.org.br

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